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LiteraturaHistoriaBiografía

Resende, Garcia de (ca. 1470-1550 ad quem).

Escritor portugués en prosa y verso nacido en Évora hacia 1470 y fallecido antes de mediados del siglo XVI; también desempeñó diversas labores como diplomático durante las embajadas de Duarte Galvão y Tristán da Cunha. Trabajó con Juan II de Portugal y con su hijo, el príncipe Alfonso; a la muerte de éste, volvió al servicio de su padre. Como prosista, dejó una Chrônica de D. João II; como poeta, se le debe el gran Cancioneiro geral de 1516, colección de poesía cancioneril (véase cancioneros españoles), gran antología que tiene por modelo el Cancionero general de Hernando del Castillo; en este impreso posincunable, Resende no sólo sigue la moda literaria de las cortes españolas sino que va más allá al adjuntar numerosas composiciones, de españoles y portugueses, escritas en castellano. En el conjunto, hay más de doscientos poetas, entre ellos el propio Garcia de Resende, con sus Trovas à morte de Inês de Castro. La poesía aquí recogida supone, desde una perspectiva nacionalista portuguesa, un gran hiato entre la época dorada de los cancioneiros gallego-portugueses y la poesía clásica de esa nación, que tendrá su hito con Camões. Por su interés, aquí se recoge el prólogo que Resende puso al inicio del Cancioneiro:

Prólogo al Cancioneiro geral

Muito alto e muito poderoso Príncipe Nosso Senhor:

Porque a natural condiçam dos Portugueses é nunca escreverem cousa que façam, endo dinas de grande memória, muitos e mui grandes feitos de guerra; paz e vertudes, de ciência, manhas e gentilezas sam esquecidos. Que, se os escritores se quisessem acupar a verdadeiramente escrever nos feitos de Roma, Tróia e todas outras antigas crónicas e estórias, nam achariam mores façanhas nem mais notáveis feitos que os que dos nossos naturais se podiam escrever, assi dos tempos passados como d'agora: tantos reinos e senhorios, cidades, vilas, castelos, per mar e per terra tantas mil légoas, per força d'armas tomados, sendo tanta a multidão de gente dos contrairos e tam pouca a dos nossos, sostidos com tantos trabalhos, guerras, fomes e cercos, tão longe d'esperança de ser socorridos, senhoreando per força d'armas tanta parte de África, tendo tantas cidades, vilas e fortalezas tomadas e continuamente em guerra sem nunca cessar, e assi Guiné, sendo muitos reis grandes e grandes senhores seus vassalos e trebutários e muita parte de Etiópia, Arábia, Pérsia e Índias, onde tantos reis mouros e gentios e grandes senhores sam per força feitos seus súditos e servidores, pagando-lhe grandes páreas e tributos e muitos destes pelejando por nós, debaixo da bandeira de Cristos com os nossos capitães, contra os seus naturais, conquistando quatro mil légoas por mar que nenhúas armadas do Soldam nem outro nenhum gram rei nem senhor nom ousam navegar com medo das nossas, perdendo seus tratos, rendas e vidas, tornando tantos reinos e senhorios com inumerável gente à fé de Jesu Cristo, recebendo água do santo bautismo, e outras notáveis cousas que se não podem em pouco escrever.
Todos estes feitos e outros muitos doutras sustâncas nam sam devulgados como foram, se gente doutra naçam os fizera. E causa isto serem tam confiados de si, que não querem confessar que nenhuns feitos sam maiores que os que cada um faz e faria, se o nisso metessem. E por esta mesma causa, muito alto e poderoso Príncepe, muitas cousas de folgar e gentilezas sam perdidas, sem haver delas notícia, no qual conto entra a arte de trovar que em todo tempo foi mui estimadada e com ela Nosso Senhor louvado, como nos hinos e cânticos que na Santa Igreja se cantam se verá.
E assi muitos emperadores, reis e pessoas de memória, polos rimances e trovas sabemos suas estórias e nas cortes dos grandes Príncepes é mui necessária na gentileza, amores, justas e momos e também para os que maus trajos e envenções fazem, per trovas sam castigados e lhe dam suas emendas, como no livro ao adiante se verá. E se as que sam perdidas dos nossos passados se puderam haver e dos presentes se escreveram, creo que esses grandes Poetas que per tantas partes sam espalhados não teveram tanta fama como tem.
E porque, Senhor, as outras cousas sam em si tam grandes que por sua grandeza e meu fraco entender nam devo de tocar nelas, nesta que é a somenos, por em algúa parte satisfazer ao desejo que sempre tive de fazer algúa cousa em que Vossa Alteza fosse servido e tomasse desenfadamento, determinei ajuntar algúas obras que pude haver dalguns passados e presentes e ordenar este livro, nam pera por elas mostrar quais foram e sam, mas para os que mais sabem s'espertarem a folgar d'escrever e trazer à memória os outros grandes feitos, nos quais nam sam dino de meter a mão.

Autor

  • agm